
Traumas hemorrágicos estão entre as principais causas de morte evitáveis no atendimento de emergência. Eles envolvem perdas intensas de sangue, geralmente associadas a acidentes automobilísticos, quedas de grande altura, ferimentos por arma de fogo ou objetos perfurantes. Em situações assim, cada segundo conta, a atuação médica precisa ser rápida, precisa e eficaz.
Nesse contexto, uma proteína presente no próprio corpo humano tem ganhado destaque na medicina de emergência: o fibrinogênio. Seu papel na formação de coágulos é vital para conter o sangramento, e sua suplementação exógena tem se mostrado uma ferramenta eficaz no tratamento de traumas graves com hemorragia.
Vamos explorar detalhadamente como o fibrinogênio é usado no trauma hemorrágico, com embasamento científico e aplicação prática. Ideal para estudantes e profissionais em formação, o conteúdo a seguir vai te ajudar a entender por que essa proteína é considerada um verdadeiro aliado na hora de salvar vidas.
- 1 Fibrinogênio: O alicerce da coagulação
- 2 Entendendo o trauma hemorrágico
- 3 Por que o fibrinogênio é o primeiro fator coagulante a cair?
- 4 Como o fibrinogênio é usado no trauma hemorrágico?
- 5 Aplicação do fibrinogênio no trauma hemorrágico na prática clínica: Passo a passo
- 6 Quem atua na decisão e administração do fibrinogênio?
- 7 Evidências científicas que justificam o uso
- 8 Contraindicações e cuidados com a suplementação
- 9 O fibrinogênio salva vidas no trauma hemorrágico
Fibrinogênio: O alicerce da coagulação
O fibrinogênio é uma glicoproteína produzida pelo fígado e liberada na corrente sanguínea. Em um corpo saudável, ele é ativado em situações de sangramento, convertendo a trombina em fibrina – que forma uma rede de filamentos que, junto com as plaquetas, gera o coágulo. É como se o organismo criasse um “tampão biológico” para impedir a perda de sangue.
Em números, o valor normal de fibrinogênio no plasma varia entre 200 e 400 mg/dL. Em pacientes com trauma hemorrágico, esse valor pode cair rapidamente para menos de 150 mg/dL, o que compromete a capacidade do corpo de estancar o sangramento. Sem fibrinogênio suficiente, o corpo não consegue formar coágulos eficazes, o que leva a sangramentos prolongados, instabilidade hemodinâmica e até morte.
Entendendo o trauma hemorrágico
Um trauma hemorrágico ocorre quando há perda significativa de sangue em consequência de uma lesão. Isso pode comprometer a perfusão dos tecidos, causar falência múltipla de órgãos e, se não tratado adequadamente, levar à morte. As principais causas incluem:
- Acidentes de trânsito;
- Quedas;
- Ferimentos penetrantes (facas, armas de fogo);
- Cirurgias de emergência mal controladas;
- Fraturas pélvicas ou múltiplas.
O trauma hemorrágico gera uma resposta sistêmica no organismo, alterando a temperatura corporal, o pH sanguíneo e a função de diversos órgãos. Em casos graves, ocorre a coagulopatia induzida por trauma, um estado em que o sistema de coagulação falha. É nesse momento que a suplementação de fibrinogênio se torna uma das medidas mais importantes e precoces.
Por que o fibrinogênio é o primeiro fator coagulante a cair?
Estudos mostram que, durante um trauma hemorrágico, o fibrinogênio é o primeiro fator de coagulação a atingir níveis críticos. Isso ocorre devido à combinação de:
- Perda sanguínea direta (hemorragia);
- Diluição dos fatores durante a reposição com soro e cristalóides;
- Hipotermia (baixa temperatura corporal);
- Acidose (pH sanguíneo alterado).
Segundo a publicação da European Trauma Guidelines, pacientes que chegam ao pronto-socorro com trauma grave geralmente apresentam fibrinogênio abaixo de 1,5 g/L e esse nível está associado a piores desfechos clínicos.

Como o fibrinogênio é usado no trauma hemorrágico?
O uso do fibrinogênio no trauma hemorrágico segue protocolos clínicos baseados em evidências. A suplementação pode ser feita de duas maneiras principais:
- Concentrado de fibrinogênio humano (Cryo ou Fibrinogênio liofilizado): fornece rapidamente a proteína em alta concentração.
- Plasma fresco congelado: contém fibrinogênio, mas em menor concentração. É menos eficaz para aumento rápido dos níveis.
Quando indicar a reposição:
- Fibrinogênio < 1,5-2,0 g/L em contexto de hemorragia;
- Hemorragia ativa e coagulopatia identificada por tromboelastografia (TEG) ou ROTEM;
- Uso de protocolo de transfusão maciça.
Benefícios da administração precoce:
- Redução da mortalidade;
- Diminuição da necessidade de transfusões de sangue;
- Melhor controle hemostático;
- Redução do tempo de internação em UTI.
Aplicação do fibrinogênio no trauma hemorrágico na prática clínica: Passo a passo
A seguir, o fluxo clínico de uso do fibrinogênio no trauma hemorrágico:
- Avaliação inicial e controle da via aérea e respiração;
- Monitoramento dos sinais vitais e avaliação do sangramento;
- Coleta de exames laboratoriais (fibrinogênio, hemograma, gasometria);
- Avaliação com tromboelastometria (ROTEM ou TEG);
- Administração de fibrinogênio se houver queda abaixo de 1,5 g/L ou falha na formação do coágulo;
- Reavaliação da resposta clínica e laboratorial.
A tromboelastometria é um exame que permite avaliar, em tempo real, a capacidade do sangue de coagular. Ela indica com precisão se há necessidade de reposição de fibrinogênio ou outros fatores.
Quem atua na decisão e administração do fibrinogênio?
Em cenários de trauma hemorrágico, vários profissionais da saúde trabalham em conjunto:
- Médicos emergencistas: realizam a triagem e iniciam a estabilização do paciente.
- Hematologistas: indicam a conduta laboratorial e reposição adequada.
- Cirurgiões: atuam nos casos que exigem intervenção imediata.
- Intensivistas: conduzem o suporte após o controle inicial.
- Farmacêuticos hospitalares e enfermeiros: cuidam da preparação e administração da medicação.
Tudo isso acontece, muitas vezes, em unidades de trauma, UTIs e centros cirúrgicos, onde a estrutura e agilidade da equipe fazem toda a diferença.
Evidências científicas que justificam o uso
Vários estudos clínicos reforçam o uso do fibrinogênio no trauma hemorrágico, entre eles nós podemos encontrar:
- CRYOSTAT-1 Trial (2016): demonstrou que a administração precoce de crioprecipitado com fibrinogênio melhorou a estabilidade hemodinâmica de pacientes com trauma grave;
- FIBTEM-guided therapy (2018): o uso de ROTEM para guiar administração de fibrinogênio resultou em menor mortalidade e menor tempo de internação.
No Brasil, o uso do fibrinogênio tem ganhado espaço em hospitais universitários, grandes centros de trauma e serviços de emergência. A implementação de protocolos com tromboelastometria ainda é restrita, mas vem crescendo com a capacitação de profissionais e investimentos em tecnologia hospitalar.
Na Uniderp, os cursos da área da saúde oferecem disciplinas e simulações voltadas para o atendimento emergencial, inclusive com base em protocolos atuais como os de trauma hemorrágico. Essa vivência prepara os alunos para aplicar conhecimentos como este desde o início da carreira.
Contraindicações e cuidados com a suplementação
Apesar de ser uma ferramenta poderosa, o uso do fibrinogênio deve ser bem indicado e monitorado. Doses excessivas ou fora de contexto podem levar a riscos como:
- Trombose venosa profunda;
- Embolia pulmonar;
- Hiperviscosidade sanguínea.
Por isso, a conduta deve ser sempre respaldada por exames e individualizada para cada paciente.

O fibrinogênio salva vidas no trauma hemorrágico
A atuação do fibrinogênio no trauma hemorrágico é um exemplo de como o conhecimento científico pode ser aplicado diretamente para salvar vidas. Quando administrado de forma precoce e orientada por evidências, ele se torna uma peça fundamental no controle de sangramentos graves, contribuindo para estabilizar o paciente, evitar complicações e permitir intervenções cirúrgicas seguras.
Para quem está começando na área da saúde, entender esse processo é dar os primeiros passos rumo à prática clínica de excelência. Aprender a identificar quando usar, como administrar e o impacto desse recurso é parte do compromisso ético de cuidar com segurança e responsabilidade.
Próximos passos para sua carreira na saúde
Se você chegou até aqui, parabéns! Isso mostra seu interesse genuíno por temas relevantes e desafiadores da medicina e da saúde. Entender o uso do fibrinogênio em traumas hemorrágicos é um diferencial, e dominá-lo pode te colocar à frente em estágios, processos seletivos e na própria segurança no atendimento.
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